Penso
na vida como uma montanha-russa, embora a ideia de uma roleta-russa
também seja apropriada. Em trinta anos, já vivi tantos altos e
baixos que, na média, minha vida seria uma pacata planície. Uma
verdadeira bobagem, por isso não acredito em gráficos. O sabor da
vida e da desgraça está no cume do prazer e no fosso do sofrimento.
Não há nada mais triste do que ser normal – toda a mediocridade
de querer ser aceito como todos os outros me dá náuseas. A História
é feita dos extremos, porque é isso que fascina o espírito humano:
a dialética, o maniqueísmo, a ilusão de que há o bem contra o
mal, a falácia de que o anverso do amor é o ódio.
O
primeiro looping
a me lançar para o alto foi o meu nascimento, ou como gosto de
pensar: a minha estreia. Primeiro filho de imigrantes russos, a
gélida e inebriante Mãe Rússia é a minha pátria avó, mas
conheci o mundo a partir destas terras tropicais em que a estética
do calor dita as regras de comportamento de seu povo. Em meio aos
peles morenas, nasci alourado e leitoso, neto do gelo sob tórrido
sol, um tipo estranho no meio de enorme ebulição miscigenada de
índios, negros e ibéricos. Desde a maternidade já não me
encaixava no padrão considerado normal, essa mera estatística que
transforma seres em números e números em abstrações objetivas de
formas de vida que jamais serão capturadas pelas frígidas leis
matemáticas. Nasci com polidactilia pós-axial, o que poderia me
render algum talento especial caso viesse a me tornar pianista, porém
jamais descobri em mim qualquer aptidão para a música e também nem
tive tempo para descobri-la, porque meus pais fizeram a escolha por
mim antes que eu pudesse ponderar qualquer coisa. Com pouco mais de
seis meses, lá estavam minhas mãos com cinco dedos em cada uma pela
primeira vez. Esse é o tipo de coisa que eu viria a descobrir muito
tempo mais tarde, porque nessa época, era apenas um frágil bebê
que recebeu o nome Иван, ou Ivan, conforme a versão do idioma
russo para o português. Mesmo sem saber que os homens do passado
tinham inventado conceitos como os de capitalismo e comunismo,
maneiras ineficazes de tentar controlar e organizar o impulso
civilizatório, eu consegui o primeiro emprego da minha vida aos nove
meses de idade – um tanto cedo para ingressar no sistema, mas lá
estava eu. O despontar de um falso carisma messiânico surgiu quando
interpretei o menino Jesus na manjedoura para um comercial de uma
rede de supermercados. Para os comerciantes, uma excelente
oportunidade para conquistar os duros corações amolecidos pelo
espírito natalino de final de ano, atraindo-os com suas carteiras
recheadas pelo décimo terceiro salário e aquela velha hipocrisia
propagada pelas canções que saúdam uma noite feliz e um tempo de
paz. Não há época melhor para treinar a sua falsidade do que em
dezembro, quando todos quererem ser generosos para agradar o divino
imortal que morreu por todos. Depois basta usar o que foi aprendido
nos outros onze meses subsequentes do novo ano. Toda relação que
termina mal deve ter tido um bom início, pois a minha ligação com
a religião se deu exatamente dessa forma.
A
vida assim como a montanha-russa precisa de impulsos, de forças que
surgem do próprio movimento, porque é nesse caos que as coisas
acontecem. A ordem e a paz são a morte com sua permanência, a sua
imutabilidade. Então, após subir, a vida precisava equilibrar o seu
plano para mim, e, na sequência, correr os trilhos na descendente é
sempre mais assustador. Da mesma forma que não lembro de ter sido o
Salvador para o anúncio de televisão, também não tenho
recordações do acidente automobilístico que minha família sofreu
quando eu ainda era um bebê. Meus pais nada sofreram além de
arranhões e hematomas, mas eu precisei ficar internado por dois
meses no hospital para tratar de uma hemorragia interna e alguns
ossos quebrados, com isso, minha família perdeu a oportunidade de
assinar novos contratos para expor a sua cria branquela na mídia que
tanto precisa de um modelo. Na minha falta, encontraram outro. Todos
os modelos são substituíveis, todos são descartáveis. Minha
carreira dava um primeiro passo atrás, mas assim como haveria outros
em direção oposta, também este não seria o único nesse sentido.
Por ora, eu estava fora de um negócio no qual nem entendia como
tinha entrado.
Durante
os anos escolares, sempre fui o garoto mais alto da turma, o que me
garantia apelidos como: girafa, limpador de mangueira, louva-a-deus,
poste, linguiça, taquara e outros tantos. Foi cedo que aprendi a ter
coragem e a brigar com dois, três ou quatro oponentes de uma só
vez. Minha juventude foi repleta de socos e pontapés, com isso
garanti um lugar de respeito dentro da turma. Se engana aquele que
pensa que os meninos eram o maior desafio, pois são as garotas que
machucam por dentro. Um murro faz um hematoma, fere, mas o corpo
absorve o impacto e se recupera, porém as marcas que uma mulher faz
no coração de um homem nunca se fecham (por mais jovem que este
seja). O meu problema era amar demais e rapidamente, e eu despertava
alguma coisa nelas que me tornava o preferido das garotas, ao mesmo
tempo em que gerava a inveja de meus rivais. Na antiga concepção do
termo, me tornei homem aos dezesseis anos, quando conheci muitas
marias, joanas, betes, alines e outras e outras e outras. Cada uma,
ao seu modo, gravou uma assinatura na minha memória: há aquelas que
deixaram histórias e aquelas que se revelam em flashes,
mas estão lá e nunca conseguirei apagá-las. Nessa época fui
convidado a integrar o cast
de uma agência de modelos, porque ao contrário dos colegas de
escola que desdenhavam do meu corpo, os conhecedores de moda
reconheceram que a minha altura, os ombros largos, as feições
másculas e joviais e os músculos bem definidos poderiam ser bem
aproveitados tanto nas passarelas quanto na publicidade.
Em
meio a inúmeros desfiles e fotografias em estúdios, conheci Sofia,
apenas três meses mais velha do que eu, também modelo, jovem,
hipnotizante, sensual e atraente como somente ela conseguia ser.
Ambos estávamos ligados a outros relacionamentos, o que não nos
impediu de nos envolvermos como uma colisão, duas massas de terra
que levantam montanhas, isso é o que éramos. Eu já deveria saber
que tamanha energia ergue, mas também destrói tudo o que existe em
seu caminho. Contudo, os olhos do presente sempre enxergam com maior
lucidez os atos do passado do que a visão que se tem no agora,
afinal é assim que se constroem as experiências de vida. As emoções
são outras, o tempo é outro. Eu e Sofia nos unimos em uma união
conflituosa que tinha em sua paixão arrebatadora o elo que nos
manteria até onde nossos olhos não podiam ver. Como o mar em meio à
tormenta, a moda também é inconstante e agitada, enquanto meus
contratos se multiplicavam, os delas se extinguiram. Se antes éramos
um par de modelos, logo nos tornamos o modelo e sua namorada, aquela
que apenas o acompanhava nos trabalhos. Meus olhos azuis e cabelos
louros estavam estampando grifes famosas, enquanto Sofia começou a
estudar para o vestibular, uma vez que a sua carreira estava acabada.
Com o dinheiro do meu trabalho pude comprar uma casa nova para os
meus pais e um apartamento para quando eu e Sofia nos casássemos. Em
seguida ficamos noivos e não esperamos o matrimônio para começarmos
a morar juntos, pois com pouco mais de dezoito anos nos tornamos
marido e mulher antes de assinarmos qualquer papel ou de nos
ajoelharmos em qualquer altar. O comboio nessa montanha-russa parecia
apenas subir e eu apreciava a vista e o passeio.
Sofia
e eu nos casamos formalmente quando tínhamos dezenove anos para trás
e uma ilusão de eternidade à frente. Ela não entrou para a
faculdade, eu recebi inúmeros convites para gravar comerciais fora
do país. Passamos seis meses juntos entre Madri, Paris, Londres e
Berlim. Nessa montanha-russa, o meu vagão seguia à frente, enquanto
o dela vinha mais lentamente ao fim do comboio. Sem perceber os
sentimentos de quem estava ao meu lado, desejava que a vida
continuasse desse modo, pois antes dos vinte anos já tinha tudo o
que muita gente jamais terá em cem. Embora usufruísse da boa vida
que levávamos, Sofia se tornava mais frustrada por não realizar
algo que lhe desse satisfação, e ainda precisava engolir o próprio
orgulho ao perceber que a carreira dela fora enterrada e a minha cada
vez mais rumava ao topo. Primeiro foram as cervejas, uns vinhos e
espumantes ocasionais, mas em seguida vieram as doses de bebidas
destiladas todas as noites. Sofia bebia para esquecer do próprio
fracasso e eu para celebrar as minhas vitórias. Quanto maior a
subida, mais íngreme é a descida.
Estávamos
de volta à nossa cidade quando decidimos comemorar nosso primeiro
aniversário de casamento junto com dois casais de amigos em um
acampamento ao ar livre. Essa era a nossa chance de fazer algo longe
dos holofotes midiáticos, uma rara oportunidade para deixarmos em
casa as máscaras que usávamos em cada evento público. Levamos
nossas barracas para o interior e planejamos nos estabelecer por três
dias à beira do rio, próximos às cavernas e cachoeiras que
formavam a bela paisagem, no meio da mata e distantes da civilização.
Às noites tínhamos a fogueira, os violões, as bebidas, os
cobertores, os sacos de dormir, os baseados de maconha e a nós
mesmos para aquecer aquelas horas frias, mas vivas por uma esperança
ainda não esvaída. No terceiro e último dia, como fizemos nos
anteriores, fomos à cachoeira para nos divertirmos, exceto uma das
mulheres que havia cortado o pé em uma das pedras do leito do rio e
preferiu ficar no acampamento preparando os peixes pescados para o
almoço. Seguimos sem ela, apenas eu, Sofia, o outro casal e o amigo
desacompanhado. Todos já havíamos bebido, não nos preocupávamos
com qualquer tipo de controle, nosso desjejum não tinha café, mas
vodca e cachaça. O hedonismo era a regra principal, talvez a única,
ao menos é assim como me lembro daqueles dias. Percebi que uma
discussão havia se iniciado quando o amigo desacompanhado,
aparentemente, flertou com a mulher do outro sujeito. Apesar das
negativas, houve tentativas de agressão, e eu e Sofia trabalhamos
como apaziguadores dos ânimos exaltados. No último dia da viagem,
eu não permitiria que estragassem todas as boas memórias por
bobagens de ciúmes. Para desviar a atenção de todos, mergulhei de
cima de uma grande pedra direto nas águas límpidas da cachoeira.
Arranquei aplausos por meu êxito e dispersei aquele início de
confusão definitivamente. Sofia e a outra garota acharam tudo aquilo
muito perigoso, mas os rapazes estavam se entendendo novamente e me
desafiando a saltar mais longe. Meu orgulho masculino embriagado
estava em questão, por isso fiz o melhor que podia e alcancei mais
longe. Naquele momento não havia limites; desafiado, eu poderia
tudo. Sofia pedia que cessasse aquele exibicionismo, mas as vozes dos
homens pediam mais. E quanto mais se sobe, mais longe se vai e a
queda é mais severa. Saltei com todo o impulso que pude dar às
minhas pernas, ganhei tanta distância que não sabia como parar
quando, por uma fração de segundos, notei uma rocha esperando que a
minha cabeça a encontrasse.
A
vida tem dessas surpresas. Uma hora se está molhado dentro de um
rio, depois se está deitado em uma cama de hospital. Uma hora se
está correndo para saltar uma distância maior do que se crê poder
alcançar, na outra se está imóvel da cintura para baixo e as
pernas se tornam meros acessórios inúteis do restante do corpo.
Quando acordei no quarto do hospital, encontrei apenas a minha mãe
aguardando que meus olhos se abrissem. Nossos olhos azuis misturavam
lágrimas a um fundo sanguíneo de quem muito pranteou. Incrédulos,
nossos olhares dividiam o mesmo pesar, o mesmo choro que acompanha
toda queda brusca, todo choque violento. Foi nesse instante que a
minha vida se tornou mais uma roleta do que uma montanha-russa. Fui
alvejado, mas não fatalmente; fui dilacerado, mas não apenas na
cabeça ou na coluna vertebral, e sim no cerne da máscara divinal
que me escondia. Aos vinte anos, perdi toda a força de me mover com
as minhas próprias pernas. De repente, o garoto alto que enxergava o
mundo de cima para baixo estava alijado do bipedalismo,
característica tão própria do ser humano em relação aos outros
animais.
Aquela
com quem troquei juras de amor eterno pediu o divórcio três meses
após o meu acidente. Companheira para os bons momentos, Sofia era
incapaz de prosseguir em meio ao sofrimento e ao abalo que acabou com
a minha vida do jeito que ela era. Percebi que ainda descia pelos
trilhos da montanha-russa, mas dessa vez desacompanhado. Em minha
cadeira de rodas, o mundo se tornou outro, passei a ver as pessoas e
as coisas de outro ângulo. A minha altura estava reduzida, a minha
visão de quem estava no topo do Monte Olimpo se tornara uma
recordação do passado. Sentado em meu assento sobre rodas, agora
tinha que olhar para cima para encarar qualquer adulto. Para quem
nunca havia sequer pensado a respeito disso, olhar o mundo de baixo
para cima é pouco encorajador. À altura dos meus olhos estavam
apenas as crianças. Duro golpe no orgulho de quem sempre esteve tão
acima. Para xingar, praguejar, insultar Sofia nas brigas que
culminaram em nossa separação, para encará-la no fundo de seus
olhos traidores, tive de olhá-la de baixo pela primeira vez. Para
onde vai toda a força, toda a confiança quando se enfrenta o
oponente que está por cima?
O
primeiro ano após o acidente foi terrível. Não apenas por causa
dos sonhos em que me via correndo, nadando, caminhando, para em
seguida acordar e perceber que tudo não passava de um desejo que eu
gostaria que fosse real. Entretanto, isso não é tudo,
principalmente, porque comecei a me sentir menos másculo, menos
viril, sentia-me envergonhado por não ser mais desejado pelas
mulheres e invejado pelos homens. Os trilhos me levavam para um
buraco opaco, por onde a esperança jamais havia passado. Para um
homem, ser impossibilitado de andar é grave, mas a impotência que
acompanha a paralisia é avassaladora. Entendi que a separação
entre corpo e mente é pura baboseira didática. Somente somos quem
somos pelo corpo que temos, porque a vida é sensorial e todas as
experiências dependem daquilo que nos constitui. Um corpo doente não
carrega uma mente sadia. Passei a me perceber diferente, pior, menor,
inferior. O que de fato aconteceu é que me tornei medroso, inseguro,
já não conseguiria provar mais nada a ninguém. Daquele bebê que
um dia encenou Jesus na manjedoura já não restava nada, aliás não
restava fé ou respeito pelo divino. Fui tão alto que caí como
Ícaro, pensei ter tocado o céu, e hoje me identifico com a queda
luciferiana.
Enquanto
Sofia já tinha um namorado novo, eu me dividia entre querer
recuperar o movimento das pernas para reconquistá-la e a forte
vontade de esmagar o seu crânio com as rodas de minha cadeira. No
abandono de quem não tem mais esperança, na solidão de quem
desiste de encontrar alguém para si, eu ainda a amava tanto que
poderia odiá-la com tamanha intensidade apenas para tê-la só para
mim, só para destruí-la um pouco a cada dia. O ódio é um
sentimento que se mantém facilmente, mas é preciso muito esforço
para lembrar de esquecer alguém.
Vendi
meu apartamento e voltei a morar com meus pais. Nos dois anos
seguintes fui procurado por redes de televisão e revistas de
celebridades para contar a minha história – o refugo da fama, o
que ainda me restava. Mudei tantas vezes as versões sobre o acidente
que passei a acreditar que o meu orgulho não foi o causador da maior
estupidez com consequências graves que cometi na vida. Vi minha
imagem chorando tantas vezes na televisão ao recontar a história,
que poderia ter pena daquele sujeito preso à cadeira de rodas em
razão de uma fatalidade. No entanto, em meio a tudo que se tenta
esconder de si mesmo há aquele ponto de lucidez que desafia esse véu
que se põe em frente aos próprios olhos. Lá estava eu: retratado
em fotografias nas revistas, sentado, nenhum sorriso no rosto, a
expressão sem vida que desfilava nas passarelas não tinha me
abandonado, embora antes fosse motivada por uma sensação de
superioridade, de onipotência, um orgulho de ser invejado por quem
jamais estaria em meu lugar; porém, agora, o que carregava por trás
dessa máscara era uma autopiedade pela queda, por descer os trilhos
sem freios, mergulhando em um vale abismal sem esperanças de retomar
uma subida – por menor que fosse. Eu tinha me tornado um ex. Lia
nas reportagens impressas e nos caracteres gerados na tela da
televisão: ex-modelo, ex-marido, ex-estrela das passarelas,
ex-primeiro nome da agência para publicidade, ex-quem fui. Quem sou?
Sem meu corpo para marcar meu lugar no mundo, quem sou? O que seria
dali em diante? Diante da derrocada surgem os questionamentos que
sempre foram evitados. Fora das passarelas e dos estúdios
fotográficos, minha vida seria resumida de forma singela: terminei o
ensino médio e aprendi o básico de outros idiomas em razão das
viagens que fazia. Essas são as minhas qualificações, não tenho
outras. Jamais pensei em outra carreira, nunca gostei de estudar,
nunca li um livro que não precisasse para a escola, não tenho
interesse em filosofia ou arte. A minha imagem era a minha carreira e
não precisava de nada mais. Narciso se afogou e morreu. Inúmeras
vezes desejei trocar de lugar com ele. O maldito se afoga e eu fui
salvo. Narciso morreu belo e eu me tornei outra pessoa, alguém que
nunca quis ser. O meu contentamento com o mundo se esvaiu em
amargura. O homem que fui somente existe em minhas memórias agora,
em um passado que revivo continuamente, mas que sei que não
retornará.
Eu,
que nunca tive vocação para coisa alguma, que era uma imagem para
vender artigos supérfluos a ávidos consumidores, enfim, aos vinte e
cinco anos encontrei uma razão na vida. A fama é um poder nas mãos
de quem sabe bem usá-la, assim como todas as utopias e ideologias
precisam de um bom plano de publicidade para serem compradas pelo
povo. Se Hitler conseguiu vender o nazismo para uma nação inteira,
está provado que as pessoas só precisam ouvir o que querem escutar.
Foi desse modo, com uma boa campanha publicitária, que lancei minha
candidatura à câmara municipal de vereadores. A minha eleição foi
mais uma subida nessa montanha-russa que é a minha vida. Descobri
meu talento para legislar, penso em causa própria e beneficio outras
pessoas com as minhas necessidades. É assim que funciona, é para
isso que fui eleito. Meu rosto e minha história ainda rendem alguns
frutos fracos, mas ainda não estou seco. Depois de tudo, continuo
vendendo sonhos, alimentando ilusões, porque as pessoas não querem
viver a realidade e a dureza de se tornarem responsáveis por seus
próprios erros, por suas falhas, nem querem reconhecer o quanto são
diferentes do que gostariam de ser, nem perceber o mal que fazem a si
mesmas e aos demais, iludindo-se com uma crença de que o bem está
ao seu lado, enquanto todo o mal é exterior. Na busca por heróis,
os seres humanos continuam esperando que a salvação venha de fora.
Conto revisado em agosto de 2014.
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